Gabriel Marcel precursor do existencialismo francês[1]
Gabriel Marcel nasceu no dia 07 de dezembro de 1889 na cidade de Paris, na França e faleceu em 1973. Seu pai, conselheiro de estado e ministro da França em Estocolmo foi diretor de Belas Artes na biblioteca Nacional, era católico e possuía um conceito severo de vida. Sua mãe, israelita, faleceu quando Marcel tinha ainda quatro anos de idade. Foi criado por sua tia materna com quem seu pai, mais tarde, se casou. Esta madrasta, convertida ao protestantismo, educou Marcel na severa disciplina dessa religião. A superficialidade das convicções religiosa de seu pai e de sua madrasta, levou Marcel a perceber certo agnosticismo religioso em ambos.
A ligação de Marcel com a realidade transcendente provém do ambiente religioso em que foi educado. Para Marcel, assim como em Kierkegaard,[2] a relação do homem com Deus, é tão íntima que, somente na consciência dessa relação, o homem, abre perspectiva para conhecer sua verdade mais profunda que está no próprio Deus.
“A idéia básica de minhas teses, cuja idéia deve constituir o centro absoluto ao qual todas as outras se referem, é que a relação maior, a afirmação da transcendência divina, é o único que permite pensar a individualidade. Sem dúvida eu sou tanto mais, quanto Deus é mais para mim.[3]” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
As preocupações fundamentais do seu pensamento são: a exigência do ser enquanto ser e a existência singular e concreta de cada indivíduo, que nas relações do dia a dia, se unem e os faz ser.
Por ser filho único, Marcel procurou compensar a solidão na busca de amigos. Foi dessa situação existencial que, em sua filosofia, surgiu a preocupação com a temática da intersubjetividade na relação eu-tu.
Em seu tempo de escola, Marcel, aborreceu-se com o método de avaliação por notas.[4] Isso o levou, desde cedo, a lutar contra a abstração e o impessoal. Em Os homens contra o homem (1951), ele faz questão de acentuar esse aspecto peculiar a sua filosofia, diz ele: “No aspecto dinâmico, toda a minha obra filosófica é um combate obstinado e sem tréguas contra o espírito de abstração.” (Marcel1951.p5). Vale citar que, dentre as muitas analogias da história e do pensamento de Marcel Com a história e o pensamento de Kierkegaard, esse repúdio do francês pelas abstrações e impessoalidades pedagógicas, também são comuns ao dinamarquês[5].
Tendo participado, como membro ativo da cruz vermelha, na primeira guerra mundial, Marcel experimentou de maneira concreta o drama da existência humana. No ambiente de guerra, no meio do sofrimento e da angústia, Marcel, chegou a conclusão de que os sentimentos, a experiências e particularidades do indivíduo concreto, não se deixam amoldar pela objetividade do pensamento[6].
Em 1919, Marcel desposou Jacqueline Boegner, uma protestante que se converteu ao catolicismo três anos antes de sua morte em 1947.
Em 1929, Marcel converteu-se ao catolicismo. Foi batizado no dia 23 de março daquele ano. Talvez uma carta de François Mauriac, em critica a peça Dieu et Mammon, que terminava com as seguintes palavras “... y em fin, Mr. Marcel, ?por que nos es usted de los nuestros? Neste momento, diz Marcel, o equilíbrio se rompeu e veio uma inquietação profunda que só foi resolvida com sua decisão de aceitar o cristianismo católico. O próprio Marcel expressou os sentimentos vivenciados no momento do batismo: “Acabaram-se as dúvidas. Felicidade prodigiosa vivi esta manhã. Pela primeira vez, experimentei claramente o que é a graça. Palavras terríveis, mas é assim. Finalmente fui encurralado pelo Cristianismo. Submergir nele. Feliz submersão.[7]” !” (Marcel apud Aduriz;1949:11.)
Além de filósofo, Marcel, análogo a Sartre, foi crítico de teatro e autor de várias peças. Sobre a relação estabelecida entre sua filosofia e o teatro, Marcel escreveu: “Para mim, antes de mais nada, o teatro é o instrumento de investigação a ser usado fora de qualquer pressuposto ideológico e, em segundo lugar, como corretivo das inevitáveis parcialidades de toda a síntese filosófica.” (MARCEL in Reale.1991.p.617). Para o dramaturgo, a existência deve ser interpretada e expressa em linguagem que, fora das abstrações filosóficas, traduza os verdadeiros sentimentos do homem em suas situações do dia-a-dia. É como uma música, que quando tocada vai alem das notas e conceitos expressos, revelando uma realidade de sentimentos e mistérios que se entrelaçam, trazendo a tona as lembranças do passado, e projetando possibilidades futuras.
O pensamento marceliano, longe das puras abstrações, encontra no concreto da vida, nas emoções, paixões e prazeres vividos a melodia conceitual para a expressão das categorias que o constitui. Aliás, como ele mesmo diz, é uma base musical que, pela harmonia das notas, desperta para a filosofia do mistério[8]. (Roberto Mesquita)
[1] “Gabriel Marcel es el iniciador del movimiento existencialista fracês. Su artículo “Existence et objectivité” publicado en la “REVUE DE MÉTAPHAPSYQUE ET MORALE » el año 1925, enunciaba ya las tesis fundamentales des existencialismo antes que fuesen conocidos en Francia Kierkegaard, Jaspers y Heidegger.”(ADURIZ,1949.p.7)
[2] “Alguém que dá ao aprendiz não somente a verdade, mas também a condição para compreendê-la, é mais que um professor, se isso tem de ser , deve ser feito pelo próprio Deus.” (GARDINER,2001.p80)
[3] “La idea cardianal de mi tesis, la que debia constituir el centro absoluto al cual todas las otras se refiriesen, es que la relacion mayor, la afirmacioón de la transcendencia divina, es lo único que permite pensar la individualidade. Sin duda soy yo tanto mas, cuanto Dios es para mi.” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
[4] “O ambiente escolar e os métodos de ensino com que foi educado deixaram em Marcel péssima impressão e recordação. O ensino impessoal, abstrato, inumano, puramente objetivo, afastado da realidade e das condições especiais em que se desenvolvem os jovens, ‘prejudicou, segundo o próprio Marcel, física e espiritualmente seu desenvolvimento.” (Giordani,1997.p.116)
[5] “Sua hostilidade ao organismo acadêmico foi contínua, nutrida por uma desconfiança antiga e enraizada de algo que ele acreditava ser endêmico na atmosfera intelectual da época. Era a preocupação com o que Kierkegaard chamava de “ilusões de objetividade”, que apareciam, por um lado, na tendência a sufocar o núcleo vital da experiência subjetiva sob a camadas de comentários históricos e generalizações pseudo-científicas e, por outro, na propensão à discussão de idéias a partir de pontos de vista abstratos, que não levavam em conta seu significado para os compromissos e expectativas dos seres humanos de carne e osso.”(GARDINER.2001.p.10)
[6] “Pensar, julgar, formular, parecem-lhe uma traição à realidade: o que existe e conta é este indivíduo real que sou, com todas as particularidades da aventura concreta que lhe tocou viver, ele só e nenhum outro”. (Klimke-Colomer in Giordani,1997.p.117)
[7] “Ya no dudo más. Milagrosa felicidade esta mañana. Por primeira vez he hecho claramente la experiência de la gracia. Estas palabras son terribles, pero es así. Por fin he sido sitiado por el cristianismo; y he quedado sumergido: bienhadada sumersion!” (Marcel apud Aduriz. 1949. p.11.)
[8] “La musica era mi verdadera vocacion”. Em esta esta afirmaçion suya se resume emocionalmente el matiz fundamental de su pensamiento: expresión directa de lo inobjetivable y sumersión total em las experiências vitales. Su pensamiento, como el mismo afirma, es de ‘esencia musical’”. (Marcel apud Aduriz. 1949. p.8).
Gabriel Marcel nasceu no dia 07 de dezembro de 1889 na cidade de Paris, na França e faleceu em 1973. Seu pai, conselheiro de estado e ministro da França em Estocolmo foi diretor de Belas Artes na biblioteca Nacional, era católico e possuía um conceito severo de vida. Sua mãe, israelita, faleceu quando Marcel tinha ainda quatro anos de idade. Foi criado por sua tia materna com quem seu pai, mais tarde, se casou. Esta madrasta, convertida ao protestantismo, educou Marcel na severa disciplina dessa religião. A superficialidade das convicções religiosa de seu pai e de sua madrasta, levou Marcel a perceber certo agnosticismo religioso em ambos.
A ligação de Marcel com a realidade transcendente provém do ambiente religioso em que foi educado. Para Marcel, assim como em Kierkegaard,[2] a relação do homem com Deus, é tão íntima que, somente na consciência dessa relação, o homem, abre perspectiva para conhecer sua verdade mais profunda que está no próprio Deus.
“A idéia básica de minhas teses, cuja idéia deve constituir o centro absoluto ao qual todas as outras se referem, é que a relação maior, a afirmação da transcendência divina, é o único que permite pensar a individualidade. Sem dúvida eu sou tanto mais, quanto Deus é mais para mim.[3]” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
As preocupações fundamentais do seu pensamento são: a exigência do ser enquanto ser e a existência singular e concreta de cada indivíduo, que nas relações do dia a dia, se unem e os faz ser.
Por ser filho único, Marcel procurou compensar a solidão na busca de amigos. Foi dessa situação existencial que, em sua filosofia, surgiu a preocupação com a temática da intersubjetividade na relação eu-tu.
Em seu tempo de escola, Marcel, aborreceu-se com o método de avaliação por notas.[4] Isso o levou, desde cedo, a lutar contra a abstração e o impessoal. Em Os homens contra o homem (1951), ele faz questão de acentuar esse aspecto peculiar a sua filosofia, diz ele: “No aspecto dinâmico, toda a minha obra filosófica é um combate obstinado e sem tréguas contra o espírito de abstração.” (Marcel1951.p5). Vale citar que, dentre as muitas analogias da história e do pensamento de Marcel Com a história e o pensamento de Kierkegaard, esse repúdio do francês pelas abstrações e impessoalidades pedagógicas, também são comuns ao dinamarquês[5].
Tendo participado, como membro ativo da cruz vermelha, na primeira guerra mundial, Marcel experimentou de maneira concreta o drama da existência humana. No ambiente de guerra, no meio do sofrimento e da angústia, Marcel, chegou a conclusão de que os sentimentos, a experiências e particularidades do indivíduo concreto, não se deixam amoldar pela objetividade do pensamento[6].
Em 1919, Marcel desposou Jacqueline Boegner, uma protestante que se converteu ao catolicismo três anos antes de sua morte em 1947.
Em 1929, Marcel converteu-se ao catolicismo. Foi batizado no dia 23 de março daquele ano. Talvez uma carta de François Mauriac, em critica a peça Dieu et Mammon, que terminava com as seguintes palavras “... y em fin, Mr. Marcel, ?por que nos es usted de los nuestros? Neste momento, diz Marcel, o equilíbrio se rompeu e veio uma inquietação profunda que só foi resolvida com sua decisão de aceitar o cristianismo católico. O próprio Marcel expressou os sentimentos vivenciados no momento do batismo: “Acabaram-se as dúvidas. Felicidade prodigiosa vivi esta manhã. Pela primeira vez, experimentei claramente o que é a graça. Palavras terríveis, mas é assim. Finalmente fui encurralado pelo Cristianismo. Submergir nele. Feliz submersão.[7]” !” (Marcel apud Aduriz;1949:11.)
Além de filósofo, Marcel, análogo a Sartre, foi crítico de teatro e autor de várias peças. Sobre a relação estabelecida entre sua filosofia e o teatro, Marcel escreveu: “Para mim, antes de mais nada, o teatro é o instrumento de investigação a ser usado fora de qualquer pressuposto ideológico e, em segundo lugar, como corretivo das inevitáveis parcialidades de toda a síntese filosófica.” (MARCEL in Reale.1991.p.617). Para o dramaturgo, a existência deve ser interpretada e expressa em linguagem que, fora das abstrações filosóficas, traduza os verdadeiros sentimentos do homem em suas situações do dia-a-dia. É como uma música, que quando tocada vai alem das notas e conceitos expressos, revelando uma realidade de sentimentos e mistérios que se entrelaçam, trazendo a tona as lembranças do passado, e projetando possibilidades futuras.
O pensamento marceliano, longe das puras abstrações, encontra no concreto da vida, nas emoções, paixões e prazeres vividos a melodia conceitual para a expressão das categorias que o constitui. Aliás, como ele mesmo diz, é uma base musical que, pela harmonia das notas, desperta para a filosofia do mistério[8]. (Roberto Mesquita)
[1] “Gabriel Marcel es el iniciador del movimiento existencialista fracês. Su artículo “Existence et objectivité” publicado en la “REVUE DE MÉTAPHAPSYQUE ET MORALE » el año 1925, enunciaba ya las tesis fundamentales des existencialismo antes que fuesen conocidos en Francia Kierkegaard, Jaspers y Heidegger.”(ADURIZ,1949.p.7)
[2] “Alguém que dá ao aprendiz não somente a verdade, mas também a condição para compreendê-la, é mais que um professor, se isso tem de ser , deve ser feito pelo próprio Deus.” (GARDINER,2001.p80)
[3] “La idea cardianal de mi tesis, la que debia constituir el centro absoluto al cual todas las otras se refiriesen, es que la relacion mayor, la afirmacioón de la transcendencia divina, es lo único que permite pensar la individualidade. Sin duda soy yo tanto mas, cuanto Dios es para mi.” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
[4] “O ambiente escolar e os métodos de ensino com que foi educado deixaram em Marcel péssima impressão e recordação. O ensino impessoal, abstrato, inumano, puramente objetivo, afastado da realidade e das condições especiais em que se desenvolvem os jovens, ‘prejudicou, segundo o próprio Marcel, física e espiritualmente seu desenvolvimento.” (Giordani,1997.p.116)
[5] “Sua hostilidade ao organismo acadêmico foi contínua, nutrida por uma desconfiança antiga e enraizada de algo que ele acreditava ser endêmico na atmosfera intelectual da época. Era a preocupação com o que Kierkegaard chamava de “ilusões de objetividade”, que apareciam, por um lado, na tendência a sufocar o núcleo vital da experiência subjetiva sob a camadas de comentários históricos e generalizações pseudo-científicas e, por outro, na propensão à discussão de idéias a partir de pontos de vista abstratos, que não levavam em conta seu significado para os compromissos e expectativas dos seres humanos de carne e osso.”(GARDINER.2001.p.10)
[6] “Pensar, julgar, formular, parecem-lhe uma traição à realidade: o que existe e conta é este indivíduo real que sou, com todas as particularidades da aventura concreta que lhe tocou viver, ele só e nenhum outro”. (Klimke-Colomer in Giordani,1997.p.117)
[7] “Ya no dudo más. Milagrosa felicidade esta mañana. Por primeira vez he hecho claramente la experiência de la gracia. Estas palabras son terribles, pero es así. Por fin he sido sitiado por el cristianismo; y he quedado sumergido: bienhadada sumersion!” (Marcel apud Aduriz. 1949. p.11.)
[8] “La musica era mi verdadera vocacion”. Em esta esta afirmaçion suya se resume emocionalmente el matiz fundamental de su pensamiento: expresión directa de lo inobjetivable y sumersión total em las experiências vitales. Su pensamiento, como el mismo afirma, es de ‘esencia musical’”. (Marcel apud Aduriz. 1949. p.8).
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