A FILOSOFIA EXISTENCIALISTA
O existencialismo, que teve suas origens filosóficas nas categorias do pensamento de Söeren Kierkegaard (1813-1855)[1], tem a sua culminância, no período das grandes guerras , quando muitos pensadores, voltando-se para a análise dos problemas existenciais e da esperança de uma humanidade emancipada pelos ditames da razão, percebem que, esta mesma razão, quando entendida de forma absoluta e idealista é usada como instrumento de manipulação da natureza, é a causa dos mesmos males que procura combater[2].
De maneira mais intensa, o existencialismo, surge, inicialmente, como uma reação[3] do pensamento Kierkegaardiano ao idealismo absolutista de Hegel. Depois, sob certas considerações, se volta contra o evolucionismo e o materialismo reducionista de Marx[4].
Para a filosofia da existência, o que importa é o “reale individuum”, o sujeito concreto com sua singularidade, sua existência contraditória, sua seriedade e sua paixão[5].
As categorias do pensamento de Kierkegaard[6] serviram de base para todo um desenvolvimento posterior do pensamento existencialista mesmo considerando-se certa originalidade no período contemporâneo dessa filosofia.
O Pensamento existencialista, pela maneira como se estrutura, não é de fácil sistematização. Ocorre que, a sistematização é algo a ser combatido pelo entendimento e pelo próprio estilo de vida desses pensadores[7]. A própria designação existencialista, o que já implica na consideração de uma doutrina, não é, diretamente, aceita por alguns autores como Heidegger e Jaspers. Na filosofia da existência, os posicionamentos, entre os próprios representantes dessa corrente, são os mais diversos possíveis. Por exemplo, alguns se apresentam como ateus; outros como teístas; Alguns, como Sartre, são materialistas, e outros, como Marcel e Jaspers, são espiritualistas[8]. No entanto, na categoria da existência, que é a unidade básica do pensamento desses autores, essa discrepância encontra certo limite.
Em relação ao método, existe certa inclinação para a irracionalidade porque é peculiar aos existencialistas a preferência pelos estados emocionais e subjetivos do indivíduo, do que pela objetividade da razão. Essa forma de procedimento é herança da incisiva filosofia anti-racionalista de Kierkegaard[9]. Também, tendo em vista que o existencialismo levanta suas problemáticas na existência e na relação direta dos homens com o mundo das coisas e o mundo por ele projetados, essa corrente de pensamento está em íntima sintonia com o método fenomenológico[10] de Husserl (1859-1938).
A subjetividade é a categoria que emerge da relação imediata do sujeito concreto com os objetos externos configurando, nessa relação, o eu, o mundo da reflexão e da consciência subjetiva[11].
A existência, nesse caso, é o cerne das questões existencialistas. É para ela que se voltam os filósofos dessa corrente de pensamento, tendo em vista, que é nessa dimensão que se configura, a partir das livres escolhas, a essência humana. O homem, única criatura que possui existência e confere existência ao mundo, não é de imediato uma essência, mas é um poder ser. É na relação com o mundo, em situações específicas, na sua concreta individualidade que o homem, filósofo por natureza, produz o conhecimento que tem por objetivo fundamentar os postulados científicos e, de forma ampla, dar sentido a vida. A filosofia, especificamente a da existência, começa no mundo para daí enveredar pelos horizontes do conhecimento[12]. Como diria, Sartre: “A existência precede a essência.” (Roberto Mesquita)
[1] “É difícil estabelecer onde começa e onde termina a filosofia da existência. Costumam ser incluídos entre os seus principais representantes Söeren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Niezstche (1844-1900), Gabriel Marcel ((1889-1973), Martin Heidegger (1889-1976), Jean Paul Sartre (1905-1980), Karl Jaspers (1889-1969), Simone de Beauvoir (1908-1976), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Albert Camus (1913-1960), Luis Lavelle (1883-1951), René le Senne (1882-1954), Peter Wust (1884-1940), Romano Guardini (1885-1968), Nicolau Berdiaev (1874-1948), Leon Chestov (1886-1938) e Nicola Abagnano (1901 - )”. (ZILLES. P.13).
[2]Referencio a Escola de Frankfurt – Adorno e HorkHeimer: “Se quisermos falar de doença da razão, essa doença deveria ser entendida não como mal que atacou a razão em dado momento histórico, e sim como algo inseparável da natureza da razão na civilização, assim como a conhecemos até aqui. A doença da razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de dominar a natureza.” Horkheimer apud Giovani Reale,1991.p847)
[3] “Essa nova filosofia critica o evolucionismo idealista hegeliano, acusando-o de reduzir o homem concreto a simples aspecto do geral abstrato.” (Zilles, 1995,p13.)
[4] Acusa “ o evolucionismo materialista e marxista por diluir a singularidade do homem no fluxo cósmico da matéria.” (idem)
[5] “o existencialismo, porém considera o homem como ser finito, “lançado no mundo” e continuamente dilacerado por situações problemáticas ou absurdas. E é precisamente pelo homem, o homem em sua singularidade, que o existencialismo se interessa.” Reale.1991,p593.
[6] “seu pensamento é marcado pelo subjetivismo, pela ênfase na experiência pessoal, considerada como o que dá autenticidade a filosofia, e pelo sentimento do trágico.” (MARCONDES,2000. p.242). Veja também: “As categorias centrais do pensamento de Kierkegaard se apresenta hostil a tudo que é objetivo, universal, impessoal, isto é, a tudo o que considera oposto a existência pessoal”. (...) Em combate a dispersão da exterioridade, “Kierkegaard opõe uma exigência de interioridade que manifesta nas três categorias do seu pensamento: existência, subjetividade e indivíduo”. (GIORDANI,1997.p.38)
[7] Por exemplo, “Marcel rejeita instintivamente toda sistematização; esta não se amolda a seu temperamento poético e artístico. Segundo a expressão de Gilson, “Gabriel Marcel é da família dos filósofos do ensaio, do diário ou do fragmento.” (Gilson apud Giordani.1997.p.115)
[8] O próprio Sartre faz uma classificação de alguns pensadores dessa s corrente incluindo, no seu ponto de vista, a crença religiosa. “O que torna o caso é complicado é que há duas espécies de existencialistas: de um lado, há os que são cristãos, e entres esses inclusive Jaspers e G. Marcel, de confissão católica; e de outro lado, os existencialistas ateus, entre os quais há que incluir Heidegger, os existencialistas franceses e Amim próprio.” Sartre; col. Os Pensadores, v.45,(p11)
[9] “contra a certeza racionalista de Hegel, Kierkegaard aponta para a ambivalência de um pensamento que procura seguir as linhas tortuosas e a riqueza do singular na subjetividade”.(Giles,1989.p6)
[10] “A expressão ‘fenomenologia’ significa, antes de qualquer coisa, um conceito de método(...).O termo expressa um lema que poderia ser assim formulado: voltemos às próprias coisas! E isso em contraposição às construções desfeitas no ar e às descobertas casuais, em contraposição `a aceitação de conceitos só aparentemente justificados e aos problemas aparentes que se impõem de uma geração à outra como verdadeiros problemas”.(HEIDEGGER apud REALE.1991.p.554)
[11] Explicito essa categoria a partir de considerações feitas por comentadores de Kierkegaard: “ ‘A subjetividade é a verdade’, afirma o pensador dinamarquês. “Não somente neste sentido em que ‘eu não conheço a verdade a não ser quando ela se torna vida em mim’, mas em um sentido propriamente relativista: ‘a consciência cria, a partir de si o que é verdadeiro’.” (Foulquié apud Zilles.p.40)
[12] “A filosofia deve começar, não por uma pesquisa sobre o problema do ser e, sim, por um inquérioto sobre a situação específica em que o filósofo se encontra no mundo.” (GILES,1989.p219)
O existencialismo, que teve suas origens filosóficas nas categorias do pensamento de Söeren Kierkegaard (1813-1855)[1], tem a sua culminância, no período das grandes guerras , quando muitos pensadores, voltando-se para a análise dos problemas existenciais e da esperança de uma humanidade emancipada pelos ditames da razão, percebem que, esta mesma razão, quando entendida de forma absoluta e idealista é usada como instrumento de manipulação da natureza, é a causa dos mesmos males que procura combater[2].
De maneira mais intensa, o existencialismo, surge, inicialmente, como uma reação[3] do pensamento Kierkegaardiano ao idealismo absolutista de Hegel. Depois, sob certas considerações, se volta contra o evolucionismo e o materialismo reducionista de Marx[4].
Para a filosofia da existência, o que importa é o “reale individuum”, o sujeito concreto com sua singularidade, sua existência contraditória, sua seriedade e sua paixão[5].
As categorias do pensamento de Kierkegaard[6] serviram de base para todo um desenvolvimento posterior do pensamento existencialista mesmo considerando-se certa originalidade no período contemporâneo dessa filosofia.
O Pensamento existencialista, pela maneira como se estrutura, não é de fácil sistematização. Ocorre que, a sistematização é algo a ser combatido pelo entendimento e pelo próprio estilo de vida desses pensadores[7]. A própria designação existencialista, o que já implica na consideração de uma doutrina, não é, diretamente, aceita por alguns autores como Heidegger e Jaspers. Na filosofia da existência, os posicionamentos, entre os próprios representantes dessa corrente, são os mais diversos possíveis. Por exemplo, alguns se apresentam como ateus; outros como teístas; Alguns, como Sartre, são materialistas, e outros, como Marcel e Jaspers, são espiritualistas[8]. No entanto, na categoria da existência, que é a unidade básica do pensamento desses autores, essa discrepância encontra certo limite.
Em relação ao método, existe certa inclinação para a irracionalidade porque é peculiar aos existencialistas a preferência pelos estados emocionais e subjetivos do indivíduo, do que pela objetividade da razão. Essa forma de procedimento é herança da incisiva filosofia anti-racionalista de Kierkegaard[9]. Também, tendo em vista que o existencialismo levanta suas problemáticas na existência e na relação direta dos homens com o mundo das coisas e o mundo por ele projetados, essa corrente de pensamento está em íntima sintonia com o método fenomenológico[10] de Husserl (1859-1938).
A subjetividade é a categoria que emerge da relação imediata do sujeito concreto com os objetos externos configurando, nessa relação, o eu, o mundo da reflexão e da consciência subjetiva[11].
A existência, nesse caso, é o cerne das questões existencialistas. É para ela que se voltam os filósofos dessa corrente de pensamento, tendo em vista, que é nessa dimensão que se configura, a partir das livres escolhas, a essência humana. O homem, única criatura que possui existência e confere existência ao mundo, não é de imediato uma essência, mas é um poder ser. É na relação com o mundo, em situações específicas, na sua concreta individualidade que o homem, filósofo por natureza, produz o conhecimento que tem por objetivo fundamentar os postulados científicos e, de forma ampla, dar sentido a vida. A filosofia, especificamente a da existência, começa no mundo para daí enveredar pelos horizontes do conhecimento[12]. Como diria, Sartre: “A existência precede a essência.” (Roberto Mesquita)
[1] “É difícil estabelecer onde começa e onde termina a filosofia da existência. Costumam ser incluídos entre os seus principais representantes Söeren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Niezstche (1844-1900), Gabriel Marcel ((1889-1973), Martin Heidegger (1889-1976), Jean Paul Sartre (1905-1980), Karl Jaspers (1889-1969), Simone de Beauvoir (1908-1976), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Albert Camus (1913-1960), Luis Lavelle (1883-1951), René le Senne (1882-1954), Peter Wust (1884-1940), Romano Guardini (1885-1968), Nicolau Berdiaev (1874-1948), Leon Chestov (1886-1938) e Nicola Abagnano (1901 - )”. (ZILLES. P.13).
[2]Referencio a Escola de Frankfurt – Adorno e HorkHeimer: “Se quisermos falar de doença da razão, essa doença deveria ser entendida não como mal que atacou a razão em dado momento histórico, e sim como algo inseparável da natureza da razão na civilização, assim como a conhecemos até aqui. A doença da razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de dominar a natureza.” Horkheimer apud Giovani Reale,1991.p847)
[3] “Essa nova filosofia critica o evolucionismo idealista hegeliano, acusando-o de reduzir o homem concreto a simples aspecto do geral abstrato.” (Zilles, 1995,p13.)
[4] Acusa “ o evolucionismo materialista e marxista por diluir a singularidade do homem no fluxo cósmico da matéria.” (idem)
[5] “o existencialismo, porém considera o homem como ser finito, “lançado no mundo” e continuamente dilacerado por situações problemáticas ou absurdas. E é precisamente pelo homem, o homem em sua singularidade, que o existencialismo se interessa.” Reale.1991,p593.
[6] “seu pensamento é marcado pelo subjetivismo, pela ênfase na experiência pessoal, considerada como o que dá autenticidade a filosofia, e pelo sentimento do trágico.” (MARCONDES,2000. p.242). Veja também: “As categorias centrais do pensamento de Kierkegaard se apresenta hostil a tudo que é objetivo, universal, impessoal, isto é, a tudo o que considera oposto a existência pessoal”. (...) Em combate a dispersão da exterioridade, “Kierkegaard opõe uma exigência de interioridade que manifesta nas três categorias do seu pensamento: existência, subjetividade e indivíduo”. (GIORDANI,1997.p.38)
[7] Por exemplo, “Marcel rejeita instintivamente toda sistematização; esta não se amolda a seu temperamento poético e artístico. Segundo a expressão de Gilson, “Gabriel Marcel é da família dos filósofos do ensaio, do diário ou do fragmento.” (Gilson apud Giordani.1997.p.115)
[8] O próprio Sartre faz uma classificação de alguns pensadores dessa s corrente incluindo, no seu ponto de vista, a crença religiosa. “O que torna o caso é complicado é que há duas espécies de existencialistas: de um lado, há os que são cristãos, e entres esses inclusive Jaspers e G. Marcel, de confissão católica; e de outro lado, os existencialistas ateus, entre os quais há que incluir Heidegger, os existencialistas franceses e Amim próprio.” Sartre; col. Os Pensadores, v.45,(p11)
[9] “contra a certeza racionalista de Hegel, Kierkegaard aponta para a ambivalência de um pensamento que procura seguir as linhas tortuosas e a riqueza do singular na subjetividade”.(Giles,1989.p6)
[10] “A expressão ‘fenomenologia’ significa, antes de qualquer coisa, um conceito de método(...).O termo expressa um lema que poderia ser assim formulado: voltemos às próprias coisas! E isso em contraposição às construções desfeitas no ar e às descobertas casuais, em contraposição `a aceitação de conceitos só aparentemente justificados e aos problemas aparentes que se impõem de uma geração à outra como verdadeiros problemas”.(HEIDEGGER apud REALE.1991.p.554)
[11] Explicito essa categoria a partir de considerações feitas por comentadores de Kierkegaard: “ ‘A subjetividade é a verdade’, afirma o pensador dinamarquês. “Não somente neste sentido em que ‘eu não conheço a verdade a não ser quando ela se torna vida em mim’, mas em um sentido propriamente relativista: ‘a consciência cria, a partir de si o que é verdadeiro’.” (Foulquié apud Zilles.p.40)
[12] “A filosofia deve começar, não por uma pesquisa sobre o problema do ser e, sim, por um inquérioto sobre a situação específica em que o filósofo se encontra no mundo.” (GILES,1989.p219)
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