quarta-feira, 27 de junho de 2007
O mistério ontológico
"O problema é o lado da existência que se me apresenta como externo, fora de mim; O mistério, por outro lado, é algo com que estou comprometido e cuja essência não está inteiramente dada. Daí, o ser não é problemático, mas misterioso. Os mistérios não são problemas insolúveis e sim, realidades não objetiváveis, mas que, por que fazemos parte delas, nos iluminam." Por isso, diante do Ser, temos apenas a livre escolha pelo que a metafísica é a lógica da liberdade.
sexta-feira, 15 de junho de 2007
Gabriel Marcel
Gabriel Marcel precursor do existencialismo francês[1]
Gabriel Marcel nasceu no dia 07 de dezembro de 1889 na cidade de Paris, na França e faleceu em 1973. Seu pai, conselheiro de estado e ministro da França em Estocolmo foi diretor de Belas Artes na biblioteca Nacional, era católico e possuía um conceito severo de vida. Sua mãe, israelita, faleceu quando Marcel tinha ainda quatro anos de idade. Foi criado por sua tia materna com quem seu pai, mais tarde, se casou. Esta madrasta, convertida ao protestantismo, educou Marcel na severa disciplina dessa religião. A superficialidade das convicções religiosa de seu pai e de sua madrasta, levou Marcel a perceber certo agnosticismo religioso em ambos.
A ligação de Marcel com a realidade transcendente provém do ambiente religioso em que foi educado. Para Marcel, assim como em Kierkegaard,[2] a relação do homem com Deus, é tão íntima que, somente na consciência dessa relação, o homem, abre perspectiva para conhecer sua verdade mais profunda que está no próprio Deus.
“A idéia básica de minhas teses, cuja idéia deve constituir o centro absoluto ao qual todas as outras se referem, é que a relação maior, a afirmação da transcendência divina, é o único que permite pensar a individualidade. Sem dúvida eu sou tanto mais, quanto Deus é mais para mim.[3]” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
As preocupações fundamentais do seu pensamento são: a exigência do ser enquanto ser e a existência singular e concreta de cada indivíduo, que nas relações do dia a dia, se unem e os faz ser.
Por ser filho único, Marcel procurou compensar a solidão na busca de amigos. Foi dessa situação existencial que, em sua filosofia, surgiu a preocupação com a temática da intersubjetividade na relação eu-tu.
Em seu tempo de escola, Marcel, aborreceu-se com o método de avaliação por notas.[4] Isso o levou, desde cedo, a lutar contra a abstração e o impessoal. Em Os homens contra o homem (1951), ele faz questão de acentuar esse aspecto peculiar a sua filosofia, diz ele: “No aspecto dinâmico, toda a minha obra filosófica é um combate obstinado e sem tréguas contra o espírito de abstração.” (Marcel1951.p5). Vale citar que, dentre as muitas analogias da história e do pensamento de Marcel Com a história e o pensamento de Kierkegaard, esse repúdio do francês pelas abstrações e impessoalidades pedagógicas, também são comuns ao dinamarquês[5].
Tendo participado, como membro ativo da cruz vermelha, na primeira guerra mundial, Marcel experimentou de maneira concreta o drama da existência humana. No ambiente de guerra, no meio do sofrimento e da angústia, Marcel, chegou a conclusão de que os sentimentos, a experiências e particularidades do indivíduo concreto, não se deixam amoldar pela objetividade do pensamento[6].
Em 1919, Marcel desposou Jacqueline Boegner, uma protestante que se converteu ao catolicismo três anos antes de sua morte em 1947.
Em 1929, Marcel converteu-se ao catolicismo. Foi batizado no dia 23 de março daquele ano. Talvez uma carta de François Mauriac, em critica a peça Dieu et Mammon, que terminava com as seguintes palavras “... y em fin, Mr. Marcel, ?por que nos es usted de los nuestros? Neste momento, diz Marcel, o equilíbrio se rompeu e veio uma inquietação profunda que só foi resolvida com sua decisão de aceitar o cristianismo católico. O próprio Marcel expressou os sentimentos vivenciados no momento do batismo: “Acabaram-se as dúvidas. Felicidade prodigiosa vivi esta manhã. Pela primeira vez, experimentei claramente o que é a graça. Palavras terríveis, mas é assim. Finalmente fui encurralado pelo Cristianismo. Submergir nele. Feliz submersão.[7]” !” (Marcel apud Aduriz;1949:11.)
Além de filósofo, Marcel, análogo a Sartre, foi crítico de teatro e autor de várias peças. Sobre a relação estabelecida entre sua filosofia e o teatro, Marcel escreveu: “Para mim, antes de mais nada, o teatro é o instrumento de investigação a ser usado fora de qualquer pressuposto ideológico e, em segundo lugar, como corretivo das inevitáveis parcialidades de toda a síntese filosófica.” (MARCEL in Reale.1991.p.617). Para o dramaturgo, a existência deve ser interpretada e expressa em linguagem que, fora das abstrações filosóficas, traduza os verdadeiros sentimentos do homem em suas situações do dia-a-dia. É como uma música, que quando tocada vai alem das notas e conceitos expressos, revelando uma realidade de sentimentos e mistérios que se entrelaçam, trazendo a tona as lembranças do passado, e projetando possibilidades futuras.
O pensamento marceliano, longe das puras abstrações, encontra no concreto da vida, nas emoções, paixões e prazeres vividos a melodia conceitual para a expressão das categorias que o constitui. Aliás, como ele mesmo diz, é uma base musical que, pela harmonia das notas, desperta para a filosofia do mistério[8]. (Roberto Mesquita)
[1] “Gabriel Marcel es el iniciador del movimiento existencialista fracês. Su artículo “Existence et objectivité” publicado en la “REVUE DE MÉTAPHAPSYQUE ET MORALE » el año 1925, enunciaba ya las tesis fundamentales des existencialismo antes que fuesen conocidos en Francia Kierkegaard, Jaspers y Heidegger.”(ADURIZ,1949.p.7)
[2] “Alguém que dá ao aprendiz não somente a verdade, mas também a condição para compreendê-la, é mais que um professor, se isso tem de ser , deve ser feito pelo próprio Deus.” (GARDINER,2001.p80)
[3] “La idea cardianal de mi tesis, la que debia constituir el centro absoluto al cual todas las otras se refiriesen, es que la relacion mayor, la afirmacioón de la transcendencia divina, es lo único que permite pensar la individualidade. Sin duda soy yo tanto mas, cuanto Dios es para mi.” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
[4] “O ambiente escolar e os métodos de ensino com que foi educado deixaram em Marcel péssima impressão e recordação. O ensino impessoal, abstrato, inumano, puramente objetivo, afastado da realidade e das condições especiais em que se desenvolvem os jovens, ‘prejudicou, segundo o próprio Marcel, física e espiritualmente seu desenvolvimento.” (Giordani,1997.p.116)
[5] “Sua hostilidade ao organismo acadêmico foi contínua, nutrida por uma desconfiança antiga e enraizada de algo que ele acreditava ser endêmico na atmosfera intelectual da época. Era a preocupação com o que Kierkegaard chamava de “ilusões de objetividade”, que apareciam, por um lado, na tendência a sufocar o núcleo vital da experiência subjetiva sob a camadas de comentários históricos e generalizações pseudo-científicas e, por outro, na propensão à discussão de idéias a partir de pontos de vista abstratos, que não levavam em conta seu significado para os compromissos e expectativas dos seres humanos de carne e osso.”(GARDINER.2001.p.10)
[6] “Pensar, julgar, formular, parecem-lhe uma traição à realidade: o que existe e conta é este indivíduo real que sou, com todas as particularidades da aventura concreta que lhe tocou viver, ele só e nenhum outro”. (Klimke-Colomer in Giordani,1997.p.117)
[7] “Ya no dudo más. Milagrosa felicidade esta mañana. Por primeira vez he hecho claramente la experiência de la gracia. Estas palabras son terribles, pero es así. Por fin he sido sitiado por el cristianismo; y he quedado sumergido: bienhadada sumersion!” (Marcel apud Aduriz. 1949. p.11.)
[8] “La musica era mi verdadera vocacion”. Em esta esta afirmaçion suya se resume emocionalmente el matiz fundamental de su pensamiento: expresión directa de lo inobjetivable y sumersión total em las experiências vitales. Su pensamiento, como el mismo afirma, es de ‘esencia musical’”. (Marcel apud Aduriz. 1949. p.8).
Gabriel Marcel nasceu no dia 07 de dezembro de 1889 na cidade de Paris, na França e faleceu em 1973. Seu pai, conselheiro de estado e ministro da França em Estocolmo foi diretor de Belas Artes na biblioteca Nacional, era católico e possuía um conceito severo de vida. Sua mãe, israelita, faleceu quando Marcel tinha ainda quatro anos de idade. Foi criado por sua tia materna com quem seu pai, mais tarde, se casou. Esta madrasta, convertida ao protestantismo, educou Marcel na severa disciplina dessa religião. A superficialidade das convicções religiosa de seu pai e de sua madrasta, levou Marcel a perceber certo agnosticismo religioso em ambos.
A ligação de Marcel com a realidade transcendente provém do ambiente religioso em que foi educado. Para Marcel, assim como em Kierkegaard,[2] a relação do homem com Deus, é tão íntima que, somente na consciência dessa relação, o homem, abre perspectiva para conhecer sua verdade mais profunda que está no próprio Deus.
“A idéia básica de minhas teses, cuja idéia deve constituir o centro absoluto ao qual todas as outras se referem, é que a relação maior, a afirmação da transcendência divina, é o único que permite pensar a individualidade. Sem dúvida eu sou tanto mais, quanto Deus é mais para mim.[3]” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
As preocupações fundamentais do seu pensamento são: a exigência do ser enquanto ser e a existência singular e concreta de cada indivíduo, que nas relações do dia a dia, se unem e os faz ser.
Por ser filho único, Marcel procurou compensar a solidão na busca de amigos. Foi dessa situação existencial que, em sua filosofia, surgiu a preocupação com a temática da intersubjetividade na relação eu-tu.
Em seu tempo de escola, Marcel, aborreceu-se com o método de avaliação por notas.[4] Isso o levou, desde cedo, a lutar contra a abstração e o impessoal. Em Os homens contra o homem (1951), ele faz questão de acentuar esse aspecto peculiar a sua filosofia, diz ele: “No aspecto dinâmico, toda a minha obra filosófica é um combate obstinado e sem tréguas contra o espírito de abstração.” (Marcel1951.p5). Vale citar que, dentre as muitas analogias da história e do pensamento de Marcel Com a história e o pensamento de Kierkegaard, esse repúdio do francês pelas abstrações e impessoalidades pedagógicas, também são comuns ao dinamarquês[5].
Tendo participado, como membro ativo da cruz vermelha, na primeira guerra mundial, Marcel experimentou de maneira concreta o drama da existência humana. No ambiente de guerra, no meio do sofrimento e da angústia, Marcel, chegou a conclusão de que os sentimentos, a experiências e particularidades do indivíduo concreto, não se deixam amoldar pela objetividade do pensamento[6].
Em 1919, Marcel desposou Jacqueline Boegner, uma protestante que se converteu ao catolicismo três anos antes de sua morte em 1947.
Em 1929, Marcel converteu-se ao catolicismo. Foi batizado no dia 23 de março daquele ano. Talvez uma carta de François Mauriac, em critica a peça Dieu et Mammon, que terminava com as seguintes palavras “... y em fin, Mr. Marcel, ?por que nos es usted de los nuestros? Neste momento, diz Marcel, o equilíbrio se rompeu e veio uma inquietação profunda que só foi resolvida com sua decisão de aceitar o cristianismo católico. O próprio Marcel expressou os sentimentos vivenciados no momento do batismo: “Acabaram-se as dúvidas. Felicidade prodigiosa vivi esta manhã. Pela primeira vez, experimentei claramente o que é a graça. Palavras terríveis, mas é assim. Finalmente fui encurralado pelo Cristianismo. Submergir nele. Feliz submersão.[7]” !” (Marcel apud Aduriz;1949:11.)
Além de filósofo, Marcel, análogo a Sartre, foi crítico de teatro e autor de várias peças. Sobre a relação estabelecida entre sua filosofia e o teatro, Marcel escreveu: “Para mim, antes de mais nada, o teatro é o instrumento de investigação a ser usado fora de qualquer pressuposto ideológico e, em segundo lugar, como corretivo das inevitáveis parcialidades de toda a síntese filosófica.” (MARCEL in Reale.1991.p.617). Para o dramaturgo, a existência deve ser interpretada e expressa em linguagem que, fora das abstrações filosóficas, traduza os verdadeiros sentimentos do homem em suas situações do dia-a-dia. É como uma música, que quando tocada vai alem das notas e conceitos expressos, revelando uma realidade de sentimentos e mistérios que se entrelaçam, trazendo a tona as lembranças do passado, e projetando possibilidades futuras.
O pensamento marceliano, longe das puras abstrações, encontra no concreto da vida, nas emoções, paixões e prazeres vividos a melodia conceitual para a expressão das categorias que o constitui. Aliás, como ele mesmo diz, é uma base musical que, pela harmonia das notas, desperta para a filosofia do mistério[8]. (Roberto Mesquita)
[1] “Gabriel Marcel es el iniciador del movimiento existencialista fracês. Su artículo “Existence et objectivité” publicado en la “REVUE DE MÉTAPHAPSYQUE ET MORALE » el año 1925, enunciaba ya las tesis fundamentales des existencialismo antes que fuesen conocidos en Francia Kierkegaard, Jaspers y Heidegger.”(ADURIZ,1949.p.7)
[2] “Alguém que dá ao aprendiz não somente a verdade, mas também a condição para compreendê-la, é mais que um professor, se isso tem de ser , deve ser feito pelo próprio Deus.” (GARDINER,2001.p80)
[3] “La idea cardianal de mi tesis, la que debia constituir el centro absoluto al cual todas las otras se refiriesen, es que la relacion mayor, la afirmacioón de la transcendencia divina, es lo único que permite pensar la individualidade. Sin duda soy yo tanto mas, cuanto Dios es para mi.” (MARCEL apud Aduriz,1949.p8)
[4] “O ambiente escolar e os métodos de ensino com que foi educado deixaram em Marcel péssima impressão e recordação. O ensino impessoal, abstrato, inumano, puramente objetivo, afastado da realidade e das condições especiais em que se desenvolvem os jovens, ‘prejudicou, segundo o próprio Marcel, física e espiritualmente seu desenvolvimento.” (Giordani,1997.p.116)
[5] “Sua hostilidade ao organismo acadêmico foi contínua, nutrida por uma desconfiança antiga e enraizada de algo que ele acreditava ser endêmico na atmosfera intelectual da época. Era a preocupação com o que Kierkegaard chamava de “ilusões de objetividade”, que apareciam, por um lado, na tendência a sufocar o núcleo vital da experiência subjetiva sob a camadas de comentários históricos e generalizações pseudo-científicas e, por outro, na propensão à discussão de idéias a partir de pontos de vista abstratos, que não levavam em conta seu significado para os compromissos e expectativas dos seres humanos de carne e osso.”(GARDINER.2001.p.10)
[6] “Pensar, julgar, formular, parecem-lhe uma traição à realidade: o que existe e conta é este indivíduo real que sou, com todas as particularidades da aventura concreta que lhe tocou viver, ele só e nenhum outro”. (Klimke-Colomer in Giordani,1997.p.117)
[7] “Ya no dudo más. Milagrosa felicidade esta mañana. Por primeira vez he hecho claramente la experiência de la gracia. Estas palabras son terribles, pero es así. Por fin he sido sitiado por el cristianismo; y he quedado sumergido: bienhadada sumersion!” (Marcel apud Aduriz. 1949. p.11.)
[8] “La musica era mi verdadera vocacion”. Em esta esta afirmaçion suya se resume emocionalmente el matiz fundamental de su pensamiento: expresión directa de lo inobjetivable y sumersión total em las experiências vitales. Su pensamiento, como el mismo afirma, es de ‘esencia musical’”. (Marcel apud Aduriz. 1949. p.8).
A Filosofia existencialista
A FILOSOFIA EXISTENCIALISTA
O existencialismo, que teve suas origens filosóficas nas categorias do pensamento de Söeren Kierkegaard (1813-1855)[1], tem a sua culminância, no período das grandes guerras , quando muitos pensadores, voltando-se para a análise dos problemas existenciais e da esperança de uma humanidade emancipada pelos ditames da razão, percebem que, esta mesma razão, quando entendida de forma absoluta e idealista é usada como instrumento de manipulação da natureza, é a causa dos mesmos males que procura combater[2].
De maneira mais intensa, o existencialismo, surge, inicialmente, como uma reação[3] do pensamento Kierkegaardiano ao idealismo absolutista de Hegel. Depois, sob certas considerações, se volta contra o evolucionismo e o materialismo reducionista de Marx[4].
Para a filosofia da existência, o que importa é o “reale individuum”, o sujeito concreto com sua singularidade, sua existência contraditória, sua seriedade e sua paixão[5].
As categorias do pensamento de Kierkegaard[6] serviram de base para todo um desenvolvimento posterior do pensamento existencialista mesmo considerando-se certa originalidade no período contemporâneo dessa filosofia.
O Pensamento existencialista, pela maneira como se estrutura, não é de fácil sistematização. Ocorre que, a sistematização é algo a ser combatido pelo entendimento e pelo próprio estilo de vida desses pensadores[7]. A própria designação existencialista, o que já implica na consideração de uma doutrina, não é, diretamente, aceita por alguns autores como Heidegger e Jaspers. Na filosofia da existência, os posicionamentos, entre os próprios representantes dessa corrente, são os mais diversos possíveis. Por exemplo, alguns se apresentam como ateus; outros como teístas; Alguns, como Sartre, são materialistas, e outros, como Marcel e Jaspers, são espiritualistas[8]. No entanto, na categoria da existência, que é a unidade básica do pensamento desses autores, essa discrepância encontra certo limite.
Em relação ao método, existe certa inclinação para a irracionalidade porque é peculiar aos existencialistas a preferência pelos estados emocionais e subjetivos do indivíduo, do que pela objetividade da razão. Essa forma de procedimento é herança da incisiva filosofia anti-racionalista de Kierkegaard[9]. Também, tendo em vista que o existencialismo levanta suas problemáticas na existência e na relação direta dos homens com o mundo das coisas e o mundo por ele projetados, essa corrente de pensamento está em íntima sintonia com o método fenomenológico[10] de Husserl (1859-1938).
A subjetividade é a categoria que emerge da relação imediata do sujeito concreto com os objetos externos configurando, nessa relação, o eu, o mundo da reflexão e da consciência subjetiva[11].
A existência, nesse caso, é o cerne das questões existencialistas. É para ela que se voltam os filósofos dessa corrente de pensamento, tendo em vista, que é nessa dimensão que se configura, a partir das livres escolhas, a essência humana. O homem, única criatura que possui existência e confere existência ao mundo, não é de imediato uma essência, mas é um poder ser. É na relação com o mundo, em situações específicas, na sua concreta individualidade que o homem, filósofo por natureza, produz o conhecimento que tem por objetivo fundamentar os postulados científicos e, de forma ampla, dar sentido a vida. A filosofia, especificamente a da existência, começa no mundo para daí enveredar pelos horizontes do conhecimento[12]. Como diria, Sartre: “A existência precede a essência.” (Roberto Mesquita)
[1] “É difícil estabelecer onde começa e onde termina a filosofia da existência. Costumam ser incluídos entre os seus principais representantes Söeren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Niezstche (1844-1900), Gabriel Marcel ((1889-1973), Martin Heidegger (1889-1976), Jean Paul Sartre (1905-1980), Karl Jaspers (1889-1969), Simone de Beauvoir (1908-1976), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Albert Camus (1913-1960), Luis Lavelle (1883-1951), René le Senne (1882-1954), Peter Wust (1884-1940), Romano Guardini (1885-1968), Nicolau Berdiaev (1874-1948), Leon Chestov (1886-1938) e Nicola Abagnano (1901 - )”. (ZILLES. P.13).
[2]Referencio a Escola de Frankfurt – Adorno e HorkHeimer: “Se quisermos falar de doença da razão, essa doença deveria ser entendida não como mal que atacou a razão em dado momento histórico, e sim como algo inseparável da natureza da razão na civilização, assim como a conhecemos até aqui. A doença da razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de dominar a natureza.” Horkheimer apud Giovani Reale,1991.p847)
[3] “Essa nova filosofia critica o evolucionismo idealista hegeliano, acusando-o de reduzir o homem concreto a simples aspecto do geral abstrato.” (Zilles, 1995,p13.)
[4] Acusa “ o evolucionismo materialista e marxista por diluir a singularidade do homem no fluxo cósmico da matéria.” (idem)
[5] “o existencialismo, porém considera o homem como ser finito, “lançado no mundo” e continuamente dilacerado por situações problemáticas ou absurdas. E é precisamente pelo homem, o homem em sua singularidade, que o existencialismo se interessa.” Reale.1991,p593.
[6] “seu pensamento é marcado pelo subjetivismo, pela ênfase na experiência pessoal, considerada como o que dá autenticidade a filosofia, e pelo sentimento do trágico.” (MARCONDES,2000. p.242). Veja também: “As categorias centrais do pensamento de Kierkegaard se apresenta hostil a tudo que é objetivo, universal, impessoal, isto é, a tudo o que considera oposto a existência pessoal”. (...) Em combate a dispersão da exterioridade, “Kierkegaard opõe uma exigência de interioridade que manifesta nas três categorias do seu pensamento: existência, subjetividade e indivíduo”. (GIORDANI,1997.p.38)
[7] Por exemplo, “Marcel rejeita instintivamente toda sistematização; esta não se amolda a seu temperamento poético e artístico. Segundo a expressão de Gilson, “Gabriel Marcel é da família dos filósofos do ensaio, do diário ou do fragmento.” (Gilson apud Giordani.1997.p.115)
[8] O próprio Sartre faz uma classificação de alguns pensadores dessa s corrente incluindo, no seu ponto de vista, a crença religiosa. “O que torna o caso é complicado é que há duas espécies de existencialistas: de um lado, há os que são cristãos, e entres esses inclusive Jaspers e G. Marcel, de confissão católica; e de outro lado, os existencialistas ateus, entre os quais há que incluir Heidegger, os existencialistas franceses e Amim próprio.” Sartre; col. Os Pensadores, v.45,(p11)
[9] “contra a certeza racionalista de Hegel, Kierkegaard aponta para a ambivalência de um pensamento que procura seguir as linhas tortuosas e a riqueza do singular na subjetividade”.(Giles,1989.p6)
[10] “A expressão ‘fenomenologia’ significa, antes de qualquer coisa, um conceito de método(...).O termo expressa um lema que poderia ser assim formulado: voltemos às próprias coisas! E isso em contraposição às construções desfeitas no ar e às descobertas casuais, em contraposição `a aceitação de conceitos só aparentemente justificados e aos problemas aparentes que se impõem de uma geração à outra como verdadeiros problemas”.(HEIDEGGER apud REALE.1991.p.554)
[11] Explicito essa categoria a partir de considerações feitas por comentadores de Kierkegaard: “ ‘A subjetividade é a verdade’, afirma o pensador dinamarquês. “Não somente neste sentido em que ‘eu não conheço a verdade a não ser quando ela se torna vida em mim’, mas em um sentido propriamente relativista: ‘a consciência cria, a partir de si o que é verdadeiro’.” (Foulquié apud Zilles.p.40)
[12] “A filosofia deve começar, não por uma pesquisa sobre o problema do ser e, sim, por um inquérioto sobre a situação específica em que o filósofo se encontra no mundo.” (GILES,1989.p219)
O existencialismo, que teve suas origens filosóficas nas categorias do pensamento de Söeren Kierkegaard (1813-1855)[1], tem a sua culminância, no período das grandes guerras , quando muitos pensadores, voltando-se para a análise dos problemas existenciais e da esperança de uma humanidade emancipada pelos ditames da razão, percebem que, esta mesma razão, quando entendida de forma absoluta e idealista é usada como instrumento de manipulação da natureza, é a causa dos mesmos males que procura combater[2].
De maneira mais intensa, o existencialismo, surge, inicialmente, como uma reação[3] do pensamento Kierkegaardiano ao idealismo absolutista de Hegel. Depois, sob certas considerações, se volta contra o evolucionismo e o materialismo reducionista de Marx[4].
Para a filosofia da existência, o que importa é o “reale individuum”, o sujeito concreto com sua singularidade, sua existência contraditória, sua seriedade e sua paixão[5].
As categorias do pensamento de Kierkegaard[6] serviram de base para todo um desenvolvimento posterior do pensamento existencialista mesmo considerando-se certa originalidade no período contemporâneo dessa filosofia.
O Pensamento existencialista, pela maneira como se estrutura, não é de fácil sistematização. Ocorre que, a sistematização é algo a ser combatido pelo entendimento e pelo próprio estilo de vida desses pensadores[7]. A própria designação existencialista, o que já implica na consideração de uma doutrina, não é, diretamente, aceita por alguns autores como Heidegger e Jaspers. Na filosofia da existência, os posicionamentos, entre os próprios representantes dessa corrente, são os mais diversos possíveis. Por exemplo, alguns se apresentam como ateus; outros como teístas; Alguns, como Sartre, são materialistas, e outros, como Marcel e Jaspers, são espiritualistas[8]. No entanto, na categoria da existência, que é a unidade básica do pensamento desses autores, essa discrepância encontra certo limite.
Em relação ao método, existe certa inclinação para a irracionalidade porque é peculiar aos existencialistas a preferência pelos estados emocionais e subjetivos do indivíduo, do que pela objetividade da razão. Essa forma de procedimento é herança da incisiva filosofia anti-racionalista de Kierkegaard[9]. Também, tendo em vista que o existencialismo levanta suas problemáticas na existência e na relação direta dos homens com o mundo das coisas e o mundo por ele projetados, essa corrente de pensamento está em íntima sintonia com o método fenomenológico[10] de Husserl (1859-1938).
A subjetividade é a categoria que emerge da relação imediata do sujeito concreto com os objetos externos configurando, nessa relação, o eu, o mundo da reflexão e da consciência subjetiva[11].
A existência, nesse caso, é o cerne das questões existencialistas. É para ela que se voltam os filósofos dessa corrente de pensamento, tendo em vista, que é nessa dimensão que se configura, a partir das livres escolhas, a essência humana. O homem, única criatura que possui existência e confere existência ao mundo, não é de imediato uma essência, mas é um poder ser. É na relação com o mundo, em situações específicas, na sua concreta individualidade que o homem, filósofo por natureza, produz o conhecimento que tem por objetivo fundamentar os postulados científicos e, de forma ampla, dar sentido a vida. A filosofia, especificamente a da existência, começa no mundo para daí enveredar pelos horizontes do conhecimento[12]. Como diria, Sartre: “A existência precede a essência.” (Roberto Mesquita)
[1] “É difícil estabelecer onde começa e onde termina a filosofia da existência. Costumam ser incluídos entre os seus principais representantes Söeren Kierkegaard (1813-1855), Friedrich Niezstche (1844-1900), Gabriel Marcel ((1889-1973), Martin Heidegger (1889-1976), Jean Paul Sartre (1905-1980), Karl Jaspers (1889-1969), Simone de Beauvoir (1908-1976), Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Albert Camus (1913-1960), Luis Lavelle (1883-1951), René le Senne (1882-1954), Peter Wust (1884-1940), Romano Guardini (1885-1968), Nicolau Berdiaev (1874-1948), Leon Chestov (1886-1938) e Nicola Abagnano (1901 - )”. (ZILLES. P.13).
[2]Referencio a Escola de Frankfurt – Adorno e HorkHeimer: “Se quisermos falar de doença da razão, essa doença deveria ser entendida não como mal que atacou a razão em dado momento histórico, e sim como algo inseparável da natureza da razão na civilização, assim como a conhecemos até aqui. A doença da razão está no fato de que ela nasceu da necessidade humana de dominar a natureza.” Horkheimer apud Giovani Reale,1991.p847)
[3] “Essa nova filosofia critica o evolucionismo idealista hegeliano, acusando-o de reduzir o homem concreto a simples aspecto do geral abstrato.” (Zilles, 1995,p13.)
[4] Acusa “ o evolucionismo materialista e marxista por diluir a singularidade do homem no fluxo cósmico da matéria.” (idem)
[5] “o existencialismo, porém considera o homem como ser finito, “lançado no mundo” e continuamente dilacerado por situações problemáticas ou absurdas. E é precisamente pelo homem, o homem em sua singularidade, que o existencialismo se interessa.” Reale.1991,p593.
[6] “seu pensamento é marcado pelo subjetivismo, pela ênfase na experiência pessoal, considerada como o que dá autenticidade a filosofia, e pelo sentimento do trágico.” (MARCONDES,2000. p.242). Veja também: “As categorias centrais do pensamento de Kierkegaard se apresenta hostil a tudo que é objetivo, universal, impessoal, isto é, a tudo o que considera oposto a existência pessoal”. (...) Em combate a dispersão da exterioridade, “Kierkegaard opõe uma exigência de interioridade que manifesta nas três categorias do seu pensamento: existência, subjetividade e indivíduo”. (GIORDANI,1997.p.38)
[7] Por exemplo, “Marcel rejeita instintivamente toda sistematização; esta não se amolda a seu temperamento poético e artístico. Segundo a expressão de Gilson, “Gabriel Marcel é da família dos filósofos do ensaio, do diário ou do fragmento.” (Gilson apud Giordani.1997.p.115)
[8] O próprio Sartre faz uma classificação de alguns pensadores dessa s corrente incluindo, no seu ponto de vista, a crença religiosa. “O que torna o caso é complicado é que há duas espécies de existencialistas: de um lado, há os que são cristãos, e entres esses inclusive Jaspers e G. Marcel, de confissão católica; e de outro lado, os existencialistas ateus, entre os quais há que incluir Heidegger, os existencialistas franceses e Amim próprio.” Sartre; col. Os Pensadores, v.45,(p11)
[9] “contra a certeza racionalista de Hegel, Kierkegaard aponta para a ambivalência de um pensamento que procura seguir as linhas tortuosas e a riqueza do singular na subjetividade”.(Giles,1989.p6)
[10] “A expressão ‘fenomenologia’ significa, antes de qualquer coisa, um conceito de método(...).O termo expressa um lema que poderia ser assim formulado: voltemos às próprias coisas! E isso em contraposição às construções desfeitas no ar e às descobertas casuais, em contraposição `a aceitação de conceitos só aparentemente justificados e aos problemas aparentes que se impõem de uma geração à outra como verdadeiros problemas”.(HEIDEGGER apud REALE.1991.p.554)
[11] Explicito essa categoria a partir de considerações feitas por comentadores de Kierkegaard: “ ‘A subjetividade é a verdade’, afirma o pensador dinamarquês. “Não somente neste sentido em que ‘eu não conheço a verdade a não ser quando ela se torna vida em mim’, mas em um sentido propriamente relativista: ‘a consciência cria, a partir de si o que é verdadeiro’.” (Foulquié apud Zilles.p.40)
[12] “A filosofia deve começar, não por uma pesquisa sobre o problema do ser e, sim, por um inquérioto sobre a situação específica em que o filósofo se encontra no mundo.” (GILES,1989.p219)
quinta-feira, 14 de junho de 2007
Uma noite escura
Estamos redefinindo os paradigmas que orientam a conjuntura da vida para um novo contexto de felicidade. Não é um processo do idealismo histórico, mas uma escolha, onde cada indivíduo, na sua liberdade subjetiva, é interpelado a dar sua contribuição. Neste momento, a inércia nos move para o caos da existência. Por outro lado, a escolha consciente e responsável, num gesto de amor para com os semelhantes e a vida como um todo, nos conduz à dinâmica de uma harmonia pautada pela intersubjetividade-sensível-diálógica entre nosso ente e a realidade circundante. A sociabilidade é intrinseca a natureza humana. Não nos geramos por nós mesmos; não subsistimos por nós mesmos; nem chegaremos a um fim de ressurreição ou sobrevivência histórica por nós mesmos. Somos, inegavelmente, frutos de relações sociais. Fomos feitos a imagem e semelhança de Deus que é comunidade, una e trina, no amor. Nisto consiste a felicidade, na reorientação da vida para a plena e fraterna vivência das relações sociais. Não basta um sentimento de abertura ou piedosa complacência para com o novo que se gesta em condições reais de vida. É necessário mesmo o engajamento e a luta corajosa para revolucionar as instituições e colocá-las a serviço da vida. Não podemos negar a existência do desafio, contudo, não podemos deixar de perceber, também,um certo marasmo social. Que fazer??? Ora, precisamos, antes de tudo, perceber que nossas escolhas tem incidência direta sobre nossa vida e também in-diretamente sobre a vida do próximo. Dessa forma, creio que a afirmação Kantiana de fazer de nossas ações um imperativo universal pode ser o início de um caminho para transformações acertadas no âmago de nossas vidas e também no seio da sociedade como um todo. Só não podemos, nós cristãos, parar no Imperativo da lei. Precisamos, acima dos conceitos, perceber o ente humano como a finalidade de nossas ações. E, por isso mesmo, sobre o crivo da razão, colocar o amor. E, neste ponto, perceber que o sentimento que nos move para o agir fraterno e libertador, não é, sob hipótese alguma, de natureza particular. Mas, antes de qualquer percepção a posteriori, o amor, que tem sua fonte no eterno e sumamente bom, Deus, nosso pai, é, a-priori, por que Ele nos amou primeiro, de natureza universal. Portanto, o movimento de reorientaçõa da vida, expresso no início desse texto, é antes de tudo, um movimento de amor, que toca os indivíduos, a partir de suas escolhas, para a vivência de uma felicidade plena pautada pela solidária relação que brota da vida em comunidade. Amar ao próximo é amar ao semelhante, a si mesmo e ao próprio Deus. Pense nisso!!!! (Roberto Mesquita)
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